segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Delírio Noturno Sobre os Sonhos



Pelas altas muralhas do silêncio
pirilampos enamorados das estrelas
flertavam com as sendas do infinito

Enquanto nos bailes da minha poesia,
pelos salões imensos da madrugada,
minha imaginação rodava e rodava...

O poeta é bem mais do que a palavra,
é também o guardião dos sonhos,
que preenchem a alma e criam o futuro!

Os sonhos não pagam dívidas, porém
criam soluções! Não reparam cismas
mas desenham outras realidades

Unem povos, expressam talentos,
revigoram sentimentos, e os sonhos
mortos matam a vida também!

Sonhar o sonho, decantá-lo, voar
com ele e mergulhar nele até os confins,
eis a nossa mais nobre e severa missão!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Canção da Chuva



Que a chuva viesse delicada, espantando o calor,
embalando o sono umedecido dos pássaros,
limpado as folhas e o pensamento...
Que a chuva viesse como uma cúmplice do silêncio
e uma carruagem da noite!

Que sobre nossos sonhos modernos aspergisse
gotículas de romance, e de canções longínquas,
sobre o racionalismo das mentes.
Que trouxesse a malemolência mansa do sono
para a dureza febril dos corpos ardentes

Que umedecesse as orações e dançasse 
no mesmo vento que faz dançar a chama das velas do ritual,
que purificasse as preces antes delas seguirem às alturas
e que um pouco antes do fim, lavasse a memória e enterrasse
dissabores e dores bem fundo, dentro do chão! 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Jornada



O tempo é um trem,
e cada fase da vida
um vagão!
Cada encontro 
um passageiro,
cada desencontro
a parada numa estação.

As paisagens
são  cenários
onde ensaiamos 
nossos êxtases,
ou calvários,
ao longo de toda
a viagem!

Mas o danado mesmo
é se desvendar o segredo
de onde estamos indo!

Como se já não bastasse 
o enigma de onde viemos...

Que se junta ao desafio
de achar um próprio sentido
para percorrer o caminho!

A Rua Encantada



Gentilmente as mãos da brisa ajeitavam os ninhos dos pássaros enquanto a noite acendia luzes na terra e no céu Cheia de ternura a rua flertava com o infinito na curva das esquinas, e os poetas sonolentos, viravam astronautas do tempo... Assim versos lindos vertiam do negror dos becos, pingavam da luz das estrelas e do clarão da lua, dançando na rua, e floresciam poemas no papel!

*Foto: Bairro Farroupilha, Porto Alegre.

Os Dois Irmãos



À Kátia Pires

Nasceram juntos, gêmeos, mas coloridos. 
Um negro, outro dourado. Quatrocentas 
gramas cada, o pretinho e o dourado!

Miavam sem parar à sua mãe postiça,
já que a legítima morrera numa ONG
assistida por humanos e sua caridade
(que deu-lhes até uma mãe postiça)...

Um dia o pretinho murchou, não comeu,
miava fraquinho... Enquanto o dourado
corria saltitando vida. Nem notara que
a luz do irmão se apagara!

Correria ao veterinário, medicamentos
de hora em hora. Até que melhorou 
um pouco. Voltou a correr, brincou
com o mano, e então de novo murchou

Foi para um canto, não comia. Apreensão!
O dourado bem que o buscava, mas nada!
Foi então que a mãe postiça reparou, que a
melhora foi o esforço para uma despedida!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Andanças



Nos trilhos os pergaminhos riscados do tempo,
no vento as notas do silêncio...
A manhã clara desfraldada
pela poesia, 
a poeira branca sobre
os ombros da mobília...
Tudo vago e longínquo!

As rotas foram todas perdidas,
é preciso inventar novos caminhos,
abrir trilhas no vazio,
na saudade e no pensamento, 
enveredar por florestas perdidas!

Os mundos aéreos do sentimento
sustentam os palácios dos nossos sonhos,
e o peso dos nossos abraços, 
que nada mais são
do que cruzes que se encontram
pra compartilhar
o suplício de suas cargas!


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sobre Certas Janelas...


Há janelas que não descortinam paisagens
com verdes pastagens, ou prédios curiosos
de curvas amplas ou restritas... Há janelas
que flertam com o infinto, que miram saudades
antigas. Esquinas que só existem bem longe
no passado! Calçadas ingênuas onde os
passantes acarinhavam nossas cabeças,
trocavam sorrisos e faziam nos sentirmos 
seguros e amados nos confins do mundo, 
onde achávamos que era a nossa casa!

Há janelas onde as ruas são outras ruas,
com sons de lembranças das feiras esquecidas,
do afiador de facas apitando bem longe. E da
ronda noturna do velho do saco que levava as 
criancinhas mal criadas lá pra bem longe...
Pobre velho do saco! Coisas bem piores
nos levam pra bem longe e nós só o 
temíamos porque ainda ignorávamos isso... 

Essas janelas onde mães esperavam os filhos 
vindos da escola, e onde os irmãos contavam 
histórias sobre o formato das nuvens são
ambíguas! Ora mágicas, ora mal assombradas!
Elas são portais do passado, como nos filmes
antigos de ficção científica, só que sem os
mocinhos e os bandidos. Só um bando de 
meninos e meninas poemando seus vestígios...

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Affair Improvável?



Ah, se Batman e o Coringa parassem 
pra conversar!
Muita coisa teriam o que dizer
sobre suas loucuras, 
sobre suas máscaras,
seus sonhos!
Um querendo salvar, 
o outro destruir... 

Que são na verdade as duas faces
de uma mesma presunção!
Um clama por justiça,
o outro crê no caos.
Um aplaca sua dor com a vingança
o outro com o mal...

Os dois descobririam num bar
que não são assim, afinal,
tão desiguais!

Talvez até descobrissem que
são almas gêmeas e, quem sabe,
combinassem um segundo encontro,
talvez um jantar!... Sabe-se lá?...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Verdade Sobre os Mitos



Escrevo, e minhas palavras têm compartimentos secretos 
(que são esses que ficam entre parênteses) que dizem 
coisas sub-ditas em súbitas reflexões, em emoções 
que se atrasam e insuflam-me fantasias! Conversam 
com meus versos certas criaturas que ora me apavoram, 
e vez por outra me fascinam em um tenebroso idílio!

Agora mesmo tenho de ir, Quíron vai lá em casa 
(o pobrezinho)! Desde o dia em que fizeram
o pobre crer que era um mito, só conversa em meus
versos comigo. Falamos do alívio de suas feridas
depois que transferiu-se para o sidéreo, e do perfume
dos versos de outros poetas que sobem ao espaço...

Ah ele gosta disso, e ouve também as preces de cura que 
fazem enternecer seu coração mítico. Conversamos sobre 
o nascimento das estrelas e da lástima do egoísmo, que tanto
ontem quanto agora ainda faz suas vítimas! Dançamos no fogo,
e bebemos o sumo das palavras, cantamos ao som de todas 
as liturgias, e acordamos entrelaçados em uma lira mágica!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Espelhos


É estranho como no espelho se buscam sempre as coisas erradas,
uma ruga furtiva, um brilho que se foi, uma juventude sempre fugaz.
Assim como os enganos da maquiagem, os ensaios de olhar,
nunca verdadeiros, eternamente encenados... Devia-se buscar
nos espelhos a claridade dos lagos, a tranquilidade dos olhos,
e as luzes que nele se refletem antes de saltar para o invisível!

Num espelho moram as salas que nunca entramos (embora sejam

dentro de nossas casas).  Lá moram nossos mortos queridos, as
memórias com seus fantasmas, os poemas inacabados que gemem
sonhando com o ponto final! Dentro do espelho jazem as almas
aprisionadas das bruxas medievais (e também das atuais) que
apontam para os mundos imensos e imaginais dos poetas e místicos!

domingo, 17 de novembro de 2013

Aquário



O céu era azul como
vidraças translúcidas,
onde o próprio infinito
contemplava a vida 
humana no aquário
alquímico do tempo,
e o fumo dos sonhos
ascendendo aos céus,
e a angústia das almas
vazias enterrando-se
vagarosamente no chão... 
O mesmo chão
donde brotavam
acácias em flores douradas,
que compunham esses versos
que lhe pendiam dos galhos, 
versos de ouro
que se esparramavam
dentro das minhas palavras...

No Tempo da Inocência



Eu desenhava delicadezas com as palavras
dando asas ao sonho, ao corpo e mesmo
às coisas inertes e pesadas, pois que aprendi
que a poesia é a alquimia da alma para extrair
a beleza e com ela inundar os olhos, preencher
de ternura os ouvidos, e cobrir os gestos da
mais doce delicadeza... Naquele tempo eu cria
que o Amor estava oculto no âmago mais profundo
das coisas e que a poesia era capaz de fazê-lo
saltar intensa e livremente pra dentro vida!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Canção da Tempestade



I

A poesia da tempestade está
em combinar luz e sombra,
fogo e água, e o silêncio com 
o canto das águas que vertem 
das profundezas do céu!

Descanso aos acordes
da ventania, a sinfonia
atormentada de um violino
afinado com o indizível
e o transcendental!...

II

Os pássaros bem que anunciaram,
pois que viram no céu a correria 
das nuvens e disseram em seus
cânticos que ela vinha! Porém,
somente os poetas e os místicos
puderam ouvir os passos enormes 
da tempestade, quando esta deitou
seus escuros lençois cinzas, e fez
tremer o céu da costa oriental!

III

As águas desceram com pressa 
de suas embarcações-nuvens!
Correram buliçosas por sobre
as calçadas, brincaram de
transpor o meio fio das ruas,
como os grandes rios do norte
fazem com as suas margens...
As minúsculas gotículas
encontraram-se com outras 
há muito perdidas nessas idas 
e vindas dos ciclos das águas.
Simularam grandezas, brincaram
nas alamedas e depois umas
subiram de volta aos céus,
enquanto outras foram dormir,
serenamente, no fundo da terra!!!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Turíbulo



Circunferências de prata
de onde desprendiam-se 
volutas odoríferas que
curvavam-se até derramar
a sua poesia pelo chão,
mas que logo eram erguidas
à etéreas e místicas alturas
ao som das rezas, e pela
comoção de preces que 
procuravam ter com Deus
uma íntima comunicação...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Templo



O silêncio exalava um frescor
úmido que vertia das paredes
e nossos passos o cortavam
com a precisão de uma faca... 
O brilho de velas e incensos
eram palavras não verbais
sussurradas através
de rostos solenes,
que aspiravam as 
alturas perenes
dos sonhos e da alma...
Para muito além 
da nave e da abóboda central!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Grande Fuga




Notícia do poema (Real infelizmente): Uma cena inusitada assustou os moradores e comerciantes da área urbana de Cachoeiro do Itapemirim na manhã desta quarta-feira (30/10/2013). Um boi estava solto, circulando pela cidade e avançando nas pessoas que passavam. O Corpo de Bombeiros do município tentou fazer a captura do animal, mas não conseguiu. O boi acabou sendo morto pela polícia!


O boi fugiu pela cidade sem saber
o que fazer da sua liberdade...
Estavam todos lá, os cidadãos,
os desocupados e os bombeiros
e os soldados da brigada militar...

Pra fazer o quê?...

Arremetia chifres 
como quem dizia:
"Me deixem em paz! 
Saiam daqui!"
Confuso, assustado, 
o boi foi pra todo lado! 
Tentaram encurralá-lo,
enlaçá-lo, que nada! 
No susto e na ânsia 
de liberdade ele
era mais vivo 
e mais rápido!

Nem viram esse medo e esse susto
no fundo do olho preto e doce,
nem viram a agonia de quem
não sabia o que fazer com tanto espaço!

Um dos soldados 
deu cinco tiros
pelo bem comum, 
e o boi morreu
como a maioria de nós vive,
sem entender bem os motivos,
sem nem compreender 
o que era exatamente 
aquilo o que ele
recém descobrira 
(a liberdade)!

Só caiu exangue. 
Mais uma vítima
inocente do bem comum. 
Que nunca foi considerada, 
compreendida, acolhida... 
Ele que tivera uma 
vida mais pura 
que toda a nossa
humanidade e um dia 
decidiu sair e ver o mundo 
que não teve, como sempre, 
nenhuma piedade!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

As Duas Flores



Haviam duas flores em frente
uma à outra... O vento vez por 
outra forçava um abraço súbito,
uma chegada seguida de breve
despedida!

Se amavam assim, secretamente,

passavam juntas por suas agonias...
Uns se comoviam ao olharem, 
outros passavam por cima...
Sacudindo-nas de susto!

De vez em quando um poeta,
como eu, escrevia alguma coisa
sobre amores impossíveis, ou
distantes, embora para as flores
estivesse tudo bem...

Até que um dia foi achada uma
das flores arrancada e a outra
solitária parecia girar ao redor
buscando em agonia a sua
companheira

Até hoje nunca se soube, quem 
era o macho, quem era a fêmea!
Sabe-se só que se amaram e que
como todo mundo uma se foi
sem levar a sua parceira!

Hoje uma das flores olha para
outras flores que nascem por
toda a parte, mas sabe que no
vão à sua frente nunca haverá
outra senão sua companheira!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Ordem Oculta



No alto das árvores o vento 
cantava sua lira,
enquanto as raízes dançavam
no fundo da terra!

E na dança incógnita da vida
suspiravam os pássaros, e ouvia-se
atrás do seu canto eles
clamando: Amor! Amor!

Deslizavam as nuvens em seu
etéreo passeio, sorrindo
pra nós!... Rindo de nós!...
E quem (Meu Deus!) há de saber?

Enquanto aqui embaixo
uns se encontravam, outros
se perdiam... E o poeta que 
via a tudo, não sabia o seu lugar!...

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Mau Humor (ou Cansei de ser Bonzinho!)



O sol resmungão
foi chegando
dando um chute 
na madrugada,
parecia dizer:
"Xô sai daqui!
Vai pra lá
noite estrelada!"

E as sombras ficaram
com tanto medo
que deram um pulo
que assustou os passarinhos
que fugiram em revoada!

Ah, a luz, o clarão
dourado do dia!
Suave, pleno, perene...

Queria que o sol
tivesse uma cabeça...

Assim dava um tiro
na cara dele!...

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Jardim Secreto



Esculpindo-se toda em ternuras 
a luz desceu rasgando a vidraça
para queimar o silêncio que se 
espalhava em véus pela mobília;
da  velha madeira emanavam-se 
os rangidos de vozes do passado.
De longe mães que chamaram, 
avós que ninaram em doces cantigas
e debaixo do salgueiro, o fantasma 
de alguma infância perdida
brinca de esconder com o vento 
que nunca ouve os chamados do tempo...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Sagrado



As nuvens abriram-se permitindo que uma nesga de sol
caísse como naqueles grandes filmes épicos
sobre os milagres bíblicos
e, lá embaixo,
ela incidiu sobre um menino
que lambia os dedos melados de algodão doce...
É, poucas coisas nesse mundo são
mais sagradas que a inocência!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Poeminha da Noite Alta



No meu quarto uma mariposa
veio rondar meu poema,
minúscula andarilha da noite
que vasculha as frestas iluminadas da rua...

Quanta honra concedes
ao meus versos, mas tomara
que não aches a fresta silábica
que conduz aos porões eternos da minha alma

Canção à Beira Mar



Na praia o mar construía
oratórios de espuma onde
o vento vinha orar...

E uma procissão de pássaros
à tarde conduzia uma ruidosa
liturgia à beira mar...

A luz vazava pela espuma
das horas e a noite mansa
acendia lanternas no céu!

E as lanternas estelares
conduziam as barcas do
sonho até à casa de Deus...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Seara do Sonho



O mundo em que habito
é sempre outro, é sempre 
vário! Com altas torres de 
sonho e areias movediças 
onde todo engodo afunda
como num nascedouro 
ao contrário!

E bem perto há uma praia 
e, ao pé da montanha, há 
um paredão de pinheiros 
que, solenemente postados, 
à noite cantam num 
magnífico coro vegetal, 
junto do marulho  das 
ondas que uivam à nudez 
da lua quando ela deixa 
cair seus véus de neblina,
cor de prata e de cristal...

Ando pelas areias pintadas 
de azul pálido cantando 
coisas variadas de sonho 
e de nostalgia pelos salões 
imensos da madrugada, 
farejando o perfume do 
dia como quem busca sua paz, 
seus sonhos e o seu lugar!... 
Mas onde anda meu sonho, 
minha paz e o meu lugar? 
"Jaz longe daqui" diz o vento, 
"Numa sepultura de nácar,
dentro de uma ostra azul, 
numa embarcação há muito 
naufragada, dentro das 
profundezas do mar!..."

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Insônia



Castelos de Insônia
sombreavam a orla
da minha noite
à frente de um mar de silêncios

Onde meu sono
não anoitecia
nem amanhecia...

Longe, na pátria
dos desejos,
sereias faziam juras,
lançavam-me encantamentos...
Mas meu coração
não cedia!

Passei a noite
de olhar a noite
enquanto lá,
no mirante das estrelas

O tempo desfraldava -
lentamente -
um outro dia...

(Inspirado no arcano XVIII, A Lua)

Publicado no meu livro: "Tarot para
a Autotransformação e a Cura"

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sobre Curadores



Curadores vão além dos medicamentos,
prescrições e tratamentos, diagnósticos
curativos e internações...

Curadores são também os que rezam,
benzem, energizam com as mãos, com
as preces, as pedras, as flores, as ervas, 
com os cânticos, e os apelos do coração

Ou são simplesmente os que acarinham
a dor, abraçam num momento de tristeza
ou ligam só pra perguntar "Como está?"
"Você comeu?"

Curadores são preciosos neste mundo
sem sonhos e pobre de fé e confiança,
mas em que transborda cinismo, medo,
sobra desconfiança 

E nesse mar de ânsias vãs e paixões
consumistas (e trajetórias sem sentido), 
os curadores são os anjos esquecidos
que a urgência dos tempos resgatou!

sábado, 5 de outubro de 2013

Intenção



Eu quero aquela nuvem
aquela, bem alta
que é seguida
por um comboio 
de estrelas

E quero a dança
da noite
com seus véus
de neblina

E a carícia
dos dedos da brisa
para que trancem 
tramas de amor
no meu poema...

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sobre Vampiros e Lobisomens...



Ah, a velha sina nas glebas do mal...
De um lado uma brutal sede assassina
por sangue... E noutro a maldição canina
dos que se perderam para o animal...

Vampiros e lobisomens são, afinal,
parceiros desta mesma triste sina,
desta maldição de carnificina
sem amor, e tendo o tempo por rival!...

Também em cada homem jaz a fera,
que à sombra dos sonhos, esta quimera,
bebe nosso sangue, uiva nossas paixões!

Anseia a juventude pelas eras,
e o vômito da ira que vocifera
na floresta lodosa das solidões...

Atlantis



Ela tinha
densidade
de neblina

Luminosidade
de opala

Cercada
por torres
de nácar
de alturas
abismais

Cingida por
bosques de
sargaços
de dimensões
colossais

A cidade
submarina
estendia-se
nas profundezas
marinhas
com abóbodas
brilhantes
em forma
de caracol

E eu a via nítida 
mais e mais
a medida
que afundava
no sonho
afogado
das águas
noturnas

Levado na vaga
vazia do sono,
nos meandros
do sonho de
reentrâncias
perdidas...

Por entre
correntezas
e marés
aquelas águas não 
baixaram jamais!

Hoje sou
parte aquosa
daquilo tudo

Anêmonas multicor
são meus versos agora!

E eu mesmo sou
meio homem/coral
sonho/mistério
estátua de sal
das profundezas
do mar!...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Terra dos Estios



Meu lábio entreaberto,
solidão em flor,
de beijos deserto
e deserto de amor

Afagos que não
me chegam, e que
não dei a ninguém

Caminham por meus
olhos os sonhos vazios
da terra dos estios
onde me criei!

Como as pedras
deste deserto
eu me resignei

Como  a lua na noite
fria, esperarei

E como o cacto
solitário, florirei!

sábado, 28 de setembro de 2013

Elegia à Prima Esquecida



Pensei em te escrever algumas palavras póstumas,
mas agora percebo que não sabia todo o teu nome,
e me pergunto como pode termos estado numa
mesma família e história sem sabermos como
nos chamar? Quem eras tu?... Um ente que viveu
para ser esquecido? Uma história distante fadada
a desaparecer no tempo?... Te ofereço esses versos
que nasceram do silêncio de tua partida e com as 
minhas mais sinceras desculpas por teres ido tendo
ainda os teus primos como estranhos! Espero que tu
tenhas sido feliz com teu marido e filhos, e na casa
que escolheste para viver teus últimos dias! Que a
vida tenha sido branda contigo pelo menos no final,
e que nos reencontremos no futuro senão como irmãos
ou como cúmplices, que seja pelo menos como amigos!

sábado, 21 de setembro de 2013

Receita Mágica para Voos Noturnos


Para voar é preciso apenas
duas notas de silêncio,
uma asa bem ritmada,
um perfume de sonho,
com algumas gotas 
de nostalgia,
e um olhar que perfure
a aparência vã das coisas

Cai bem uma memória
que não tema lançar-se
num ou noutro abismo
de sentimentos, mesmo
dos que pareçam mortos
de tão velhos!

Nem que se tema ficar perdido
no labirinto de alguns poemas

Um momento de introspecção ajuda,
bem como uma xícara de chá bem quente,
ou mascar folhas de louro
como as antigas pitonisas, afinal
profetizar algumas rimas
ajuda a manter a cadência
que faz deslizar pelos poemas
as mais ásperas durezas...

Mas o fundamental mesmo,
e é bom que não se esqueça,
da vassoura ou da caneta, pois
para voar é preciso mesmo
ser uma bruxa ou um poeta!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Inundação



O vento trouxe 
a chuva que esparramou 
seus versos 
pelo telhado, 
na calçada,
respingou sua música 
no poema 
que eu escrevia...
Nem notei quando 
a chuva inundou 
minha poesia!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Minha Avó





Para Irma Maria, minha avó

As tuas mãos
- delicadeza do tempo -
rezam, curam, temperam
a minha vida...
Contas-me, ainda eufórica,
como eram teus sonhos
de menina
e da saudade que sentes
ainda de tua mãezinha...

Tua casa é teu reino amoroso
onde criaste tua família
e onde perdeste também
um casamento e um filho!

E isso não te revoltou
contra a vida, ao contrário!
Fez-te agradecer a Deus
pelo que ficou e pelo
teu dom de ainda 
sentir alegria

É lindo quando falas nos milagres de Deus,
olhas para a imensidão do céu!...

Quando eu falo na imensidão de Deus,
eu olho pra ti!...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Primavera



Para mim a primavera
começa quando
o ipê roxo floresce
na calçada da avenida
Osvaldo Aranha,
que fica parecendo
o palco pra um
festival de dança...

A primavera se anuncia
quando nas árvores
das ruas Felipe Neri,
Freire Alemão e
Eudoro Berlink
os sabiás cantam
como um coro de meninos
muito ensaiado e chique!

A primavera é
um festival de arte silvestre
nas ruas de uma 
pequena grande cidade
como o é Porto Alegre,
que muito cresceu, mas
teve a delicadeza
de se manter interiorana...

Catavento...




Há vezes na cidade
que fico perdido
igual a um catavento
que percebe a direção do vento
mas não voa com ele...

Mas tudo bem, 
viver é aprender a dura lição
de que nunca, ou quase nunca,
a gente voa com
os sonhos que tem...

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Inspiração



Meus versos, às vezes,
descem à abismos submarinos
e ficam lá, tranquilos,
relaxando na profunda sombra...
Tecem preces,
ouvem a música do silêncio,
depois guardam-na 
na concha dos ouvidos

Outras vezes sobem às alturas
na ânsia de sua busca;
meus versos estão
à procura de Deus
dentro dos sentidos...

Embrenham-se também
por florestas densas,
retiram-se à castelos
elementais de gnomos,
duendes e hamadríades

Meus versos são andarilhos,
peregrinos de mundos mágicos
que perscrutam conhecimentos
ocultos,
e que por misericórdia apenas
sussurram-me uns poemas
tão breves como suspiros...
Como este que agora aqui
convosco compartilho!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Vislumbre



Desenham contornos 
arabescos as bordas 
das nuvens ao vento

Desenham letras na praia 
as conchinhas douradas 
à beira mar

Mas e o tempo? Ora quem
nesse mundo agitado o tem?

A vida escorre nas estradas,
no escritório, no trem!...

As conchinhas, as nuvens...
Coitadinhas!... Não se mostram 
a ninguém!...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Outra Vez Sobre Nuvens...



As nuvens espiam
por sobre as janelas,
enquanto deslizam 
por horizontes
sua mística brancura...
Olham pelas frestas
das esquinas,
e no parapeito
das coberturas

As nuvens fazem-se chuva
por pura paixão,
é só pra nos lamber a pele,
e entrar pela boca até
nos achar a língua
para um beijo diluído
em gotas...

As nuvens vivem 
com os homens
um caso de amor proibido

Elas dançam por suas cabeças
enquanto eles, feito gatos,
enrodilham-se aos seus pés

As nuvens são fiéis,
em suas rondas
sempre passam para nos dar
mais uma olhadinha
como quem vela
por seus pequeninos,
antes de seguir
- sempre silenciosas -
o seu destino...

Vigílias

As portas abertas estão sempre à espera de algo... Deixo minha porta da cozinha sempre aberta à luz do dia, ao vento furtivo, à visita d...