segunda-feira, 19 de junho de 2017

A Casa Mágica...



A casa tinha muros cobertos de heras
que trepidavam à noite com a cantoria dos grilos...

O concreto úmido por debaixo delas 
dormia um sono profundo...

E apesar dos sons fortuitos do jardim e da rua,
dia e noite, o silêncio abraçava tudo
como um amante ciumento cerca sua amada...

Por dentro era quente e aconchegante,
poltronas aveludadas que pareciam convidar ao repouso

Uma lareira pequena e sólida que parecia
sequiosa dos rigores do inverno...

E cômodos perfeitos que pareciam em si
pequenas casas que aguardavam seus donos...

Janelas à frente, em direção ao jardim silente,
janelas laterais que confrontavam muros verdes...

E atrás um pequeno jardim de inverno
onde pássaros e gatos conviviam 
em harmoniosa indiferença...

Na cozinha armários perfeitos pintados de branco
um fogão com forno grande... 
Temperos nas prateleiras das janelas,
basculantes largos pintados de azul e verde...

Nessa casa faziam chás saborosos 
de receitas secretas,
bolos, de milho, laranja e maçã 
como nunca se havia provado!

Liam-se oráculos e sonhos,
conversavam com as plantas e os gnomos

Punham pedras ao sol,
benziam, rezavam, 
e pouco se importavam
com o mundo da lógica
que dá voltas atrás
do próprio rabo!

De fora era só um velho sobrado
do bairro Cidade Baixa
onde quem passava pouco se admirava
uns até diziam: "Cruzes!"...
E outros só olhavam...

E os que a admiravam
bem, esses nem sabiam,
mas haviam sido escolhidos pela casa...

Vigílias

As portas abertas estão sempre à espera de algo... Deixo minha porta da cozinha sempre aberta à luz do dia, ao vento furtivo, à visita d...