Era uma rua sem saída que já tinha
se transformado numa atração turística da cidade. Havia ali a maior
concentração de leitores de oráculos, feiticeiros, mandingueiros do amor,
curadores espirituais e terapeutas da Nova Era... Na entrada havia um portal,
sem nenhum aparelhamento de segurança ou câmeras. Apenas uma velha sineta de
latão que se não fosse tocada simplesmente o portão de ferro não abria. Havia aqueles
que diziam que era para que os bruxos soubessem que tinha gente pelas ruas, e
de que a sineta era enfeitiçada. As casas eram, em sua maioria, sobrados
antigos de dois ou três andares com quatro ou seis pequenos apartamentos. Na frente
de cada um jardins bem cuidados e muros baixos com pequenos portões. A primeira
casa era um sobrado pintado de amarelo com detalhes em branco, que todos
conheciam como a casa dos cartomantes. Ali viviam leitores de baralho de tarot
e cartas comuns, homens e mulheres de todas as idades. O mais velho era Sabino,
de noventa e um anos, que usava o tarot com impressionante sabedoria e precisão,
e a mais nova Luzia de trinta anos que lia cartas do baralho comum como quem
traduzisse textos de uma língua estranha aos que a procuravam... Na frente
ficava a casa das flores, ou das ervas, feita de pedra crua e janelas vermelhas.
Ali ficavam aqueles que indicavam, vendiam ou ensinavam sobre chás, banhos de
ervas, unguentos mágicos e sobre as essências florais
A casa dos astrólogos ficava
exatamente no fim da rua. Um grande casarão em tons de azul com um sótão de
janelas sempre abertas, onde os gatos saíam para tomar sol. Ali morava dona
Urânia e seu filho Proteus, eram consultores e professores dos mistérios dos
astros, e alguns alunos estagiavam morando com eles na casa por um tempo. A casa
das bruxas era mesmo uma casa em estilo colonial, com o jardim mais florido da
rua, onde as crianças aprendiam sobre a história das plantas e seus potenciais
mágicos. Haviam meninos e meninas, filhos dos dois casais que viviam ali com
dona Brígida. Eram o filho e a filha dela e suas respectivas famílias. Naquela
casa se desfaziam feitiços de magia negra e se confeccionava amuletos de ervas
e pedras para proteção, rituais de fertilização para casais que queriam ter
suas famílias... Havia também a casa do profeta, o velho Milo que era cego e
vivia com sua filha. Ele tinha visões sobre o futuro das pessoas só de estar na
presença delas! A casa do amor de dona Abigail, que tinha o dom de atrair o amor
para todos os que se sentiam infelizes nesse setor da vida, era pequena e
pintada de verde água com janelas verde escuro. Na rua tinha a casa dos gnomos,
que era onde muitas pessoas avistavam esses elementais nas fotos que tiravam do
jardim, que era também um santuário de borboletas de cores intensas. Ali os
pães de dona Ceres e do seu marido o senhor Aristeu eram os mais saborosos de
toda cidade, e eles quase não davam conta de tantas encomendas! Havia uma lenda
que os elementais ajudavam a potencializar o sabor dos ingredientes, e seus
efeitos na confecção dos pães e bolos que faziam...
Assim que caía a noite a rua
tomava ares nebulosos e poucas pessoas se aventuravam a passear por ela. O portão
muitas vezes emperrava, e misteriosamente o badalo do sino desaparecia! A rua
dos feiticeiros, ou rua dos bruxos virou uma espécie de mundo mágico dentro da
cidade. Parada obrigatória para qualquer um que quisesse um passeio diferente e
cheio de história, ou que tinha interesse ou necessidade de conhecer o trabalho
daquelas pessoas. Nenhum deles agia como uma celebridade metafísica ou como alguém
que tinha sua paz perturbada. Eram sempre sorridentes com os visitantes, alguns
conversavam em frente aos portões, e até posavam para fotos com os turistas. Com
o tempo o nome que remetia ao mundo da magia e da espiritualidade se tornou
quase que seu nome oficial, que esse sim era desconhecido, e um mistério
ignorado pois que estava escrito bem no alto do portal de entrada. O nome da
viela de encantos e magia era Alameda do Amor.
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