terça-feira, 14 de novembro de 2017
Encontro Sobrenatural
A rua estreita iluminada
com luares que enfeitavam
de outros ares a viela urbana,
que assim preenchida
de um silêncio antigo,
guardava um pouco
da infância do tempo
e do mundo, inaudível
e invisível aos sentidos
de quem havia viciado
em máquinas...
E como isso inclui
a maioria da humanidade,
ficamos eu e a ruazinha
a contemplar o infinito
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
Destino
Vejo nas pessoas os arcanos
que aguardam decifração,
elucidação, tradução e respectivo
entendimento de si para si mesmo...
E é justo essa a minha nobre e sóbria
missão, a de esclarecer o enigma
dentro do intrínseco silêncio
do qual nos alienamos, até
não ser mais possível qualquer
alienação...
Eu sou o encontro dos caminhos,
o mensageiro que de dentro
da caixa de pandora
extrai a luz antes da escuridão.
O Jardim das Delicadezas
Eu vivo nessa pulsação
com as coisas simples deste mundo
O cheiro do café passado
nas manhãs,
o canto dos sabiás
entre setembro e outubro,
o silêncio da noite,
os caminhos inexplorados
das ruas que eu cruzo,
a solidão das esquinas,
a chegada da chuva,
a sonata das trovoadas,
o perfume da terra...
E a honradez do espinheiro,
que floresce mesmo
que ninguém o ame...
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Ternuras
Eu me reinvento em abraços
para criar mais espaço
para mim mesmo
Mergulho em ternuras
amo os amigos, os gatos,
meus versos, meus erros
e mais ainda meus acertos
Eu me apresento na versão
melhor de mim mesmo
para encurtar distâncias,
essas que somem nos abraços...!
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
As Três Chaves
Se dormes em paz sobre
o amanhã incerto, então,
ainda que não saibas
dormes pela FÉ!
Se apesar de todos os riscos
agruras, e fracassos continuas,
é porque te guias a ESPERANÇA.
E se te inclinas a um desconhecido
para um gesto de auxílio, apoio
ou carinho, ainda que negues
és movido pelo AMOR.
Então, assim, neste mundo cínico
de ceticismo, cobiça e pretenso
desamor, os sentimentos lindos
que tu condenas ou rotulas
de piegas, cômicos, ou inúteis
te orientam!
E é justo essa a possível
salvação deste mundo.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Faca
O amor é faca de dois gumes,
um lado tem perfumes, maciez, ternura...
Do outro só durezas e cortes profundos
de pura ausência...
Para os que amam o amor nunca basta,
para os que não amam o amor nunca chega
E para quem o desconhece é uma fantasia
inventada pela solidão
Mas são esses os mais perdidos,
pois que anseiam na posse e na ânsia
do instinto, o amor que jamais conhecerão!
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
Concha
A gente se contamina
de si próprio
e nem percebe...
Se toca, mas
não se sente,
se repete,
se esquece
e continua
A coisa mais dura
do mundo
é curar-se de si mesmo...
terça-feira, 12 de setembro de 2017
À Flor dos Versos
Soube que Carmen Sílvia Presotto nos deixou no dia 11/09/2017, ela foi uma cliente que me incentivou a criar este blog para mostrar os meus poemas ao mundo... Eu a chamava de Fada Madrinha dos meus versos, e eles vieram assim em homenagem à Carmen, que subiu a escada dos versos e se perdeu de nós...
À Carmen Sílvia Presotto In Memoriam
Lembro que vi em ti
um roseiral cintilando ao sol,
e pássaros de fogo
desdobrando-se nos céus!
Eu vi em ti a tua poesia,
e mais que a poesia
que respiravas,
eu vi a poesia
que exalavas,
pois que um poeta
enquanto vive é
a sua poesia
e quando parte
ele é então toda a poesia...
E, assim, tu és agora
todos os pássaros de fogo
que sobrevoam
a nossa inspiração,
e todos os roseirais desta vida!
Saudades, saudades,
e para sempre
saudosos Madrinha...
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Cântico
Tinha um tempo em que
eu ouvia mais a cantoria das coisas...
Da chuva, dos grilos, do farfalhar
das árvores na flauta do vento...
E até a cantoria do silêncio
que estalava na casa
quando a noite caía
Nos meus sonhos ouvia
a cantoria da lua e da neblina
E, de repente, a música das coisas
se calou...
Mas às vezes eu sinto que não,
que o cântico de tudo penetrou fundo,
e me tornou uno com as coisas do mundo
terça-feira, 18 de julho de 2017
O Sagrado Amor...
Talvez o único real aprendizado
à cada alma sobre esta terra devastada,
seja mesmo o do infinito e tênue,
tremeluzente e bruto,
aterrador e puro Amor...
O Amor que arde no sexo,
que dói na saudade,
que se esvai com os dias...
O Amor sonhado, o Amor dos fatos,
e, por fim, o Amor dos Santos
que é o mais elevado!
Porque não vê cor
nem gênero. Vê gente...
Que não vê ideologias,
vê sonhos que voam...
Que não vê a violência,
mas a falta de Amor...
Que não vê orientações
mas a busca do Amor...
O Amor puro dos Santos,
que vive dentro de cada um
como uma semente sonhando
que um dia será Flor...
segunda-feira, 19 de junho de 2017
A Casa Mágica...
A casa tinha muros cobertos de heras
que trepidavam à noite com a cantoria dos grilos...
O concreto úmido por debaixo delas
dormia um sono profundo...
E apesar dos sons fortuitos do jardim e da rua,
dia e noite, o silêncio abraçava tudo
como um amante ciumento cerca sua amada...
Por dentro era quente e aconchegante,
poltronas aveludadas que pareciam convidar ao repouso
Uma lareira pequena e sólida que parecia
sequiosa dos rigores do inverno...
E cômodos perfeitos que pareciam em si
pequenas casas que aguardavam seus donos...
Janelas à frente, em direção ao jardim silente,
janelas laterais que confrontavam muros verdes...
E atrás um pequeno jardim de inverno
onde pássaros e gatos conviviam
em harmoniosa indiferença...
Na cozinha armários perfeitos pintados de branco
um fogão com forno grande...
Temperos nas prateleiras das janelas,
basculantes largos pintados de azul e verde...
Nessa casa faziam chás saborosos
de receitas secretas,
bolos, de milho, laranja e maçã
como nunca se havia provado!
Liam-se oráculos e sonhos,
conversavam com as plantas e os gnomos
Punham pedras ao sol,
benziam, rezavam,
e pouco se importavam
com o mundo da lógica
que dá voltas atrás
do próprio rabo!
De fora era só um velho sobrado
do bairro Cidade Baixa
onde quem passava pouco se admirava
uns até diziam: "Cruzes!"...
E outros só olhavam...
E os que a admiravam
bem, esses nem sabiam,
mas haviam sido escolhidos pela casa...
quarta-feira, 31 de maio de 2017
O Espelho de Outros Mundos...
O espelho embaçado é um portal inventado
pela cantoria das panelas, que inundam a casa
com seu bafo...
O outro mundo dentro do espelho
é um submundo baço e aquático...
Ou uma viela estreita por onde passam
corredores de neblina que fogem por toda parte?
Ou quem sabe seja mesmo um portal feérico
aberto entre o corredor e a cozinha,
por onde escapuliu estes versos...?
Ou quem sabe ainda seja eu quem viva
dentro de um mundo imaginário,
a reproduzir daqui as cantorias do outro lado,
onde o mundo verdadeiro palpita inconsciente
das inúmeras realidades
que habitam o tempo
em múltiplos espaços...?
segunda-feira, 22 de maio de 2017
Feitiço da Noite...
Dorme a estrela por sobre
o seu cobertor de casas acesas,
como um espelho do céu...
Olha a lua o infinito,
guiando infinitamente
todos os sonhos do mundo...
As hordas da aurora
repousam longe, longe...
E os salões da madrugada
deixam a linha do horizonte
indistinta e, indistintamente,
enegrecida as fronteiras
das lendas e da vida são
subitamente interrompidas!
Vês? O sonho agora habita
os montes, as praças,
a luz das lâmpadas e das
lamparinas...
Vês? A vida toda está vestida
de cânticos e rimas, folheada
à encantamentos e poesia...
Eu junto com estes versos
a estrada de milênios
desta noite...
Meu pensamento segue
aspirando às alturas
como a fumaça do incenso...
Ouve... Nos arabescos do vento
sonham comigo as cantorias
dos grilos e dos outros poetas...
terça-feira, 25 de abril de 2017
Estio Poético...
Tenho um rio
de versos
que secou com os dias...
Não sei onde foram
as asas que me
elevavam...
Meu rio de sonhos
agora é uma cova
vazia,
onde nem mesmo jaz
a minha poesia...
Saraus do Silêncio
O silêncio da noite tem um zunido estridente,
que ecoa no vazio das coisas vazias da gente...
Vez por outra, e só por misericórdia,
um grilo quebra as vidraças da neblina
como quem sussurra: " ouve.. ouve... há vida!"
E antes que vire uma distração,
tudo silencia novamente...
Então a noite perpassa o horror da vigília
e me abraça, e no regaço da exaustão
tudo dorme pesadamente...
sexta-feira, 24 de março de 2017
A Textura das Palavras
A palavra-pedra
é aquela palavra não dita
e que jaz para sempre
adormecida
no âmago do coração...
A palavra-pétala
é aquela que veio
de algum lugar
desconhecido,
e que gentilmente,
foi soprada do infinito
pra dentro da gente,
e vira verso, vira prosa,
vira orientação, sabedoria,
vira ternura, alforria,
carinho, amor, libertação!
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
Olhar Absoluto
Eu quero o grito tácito
que tem todo o sorriso,
a súplica por trás
de todo o olhar,
a ventania que mora
dentro da brisa mansa,
e o animal assustado
que vive dentro do herói...
Eu comungo com o dragão
que vive dentro de toda a
princesa adormecida,
e com o puro Amor
que todo monstro
carrega em si...
Eu busco a Luz que
dorme dentro da sombra,
e a relíquia futura
que vive dentro de
cada escombro...
Eu sou um caçador
das coisas ocultas,
que foram esquecidas
na comodidade das
convenções, ou na
intensidade da razão...terça-feira, 24 de janeiro de 2017
Magna Obra...
O ofício do poeta é escavar a pedra dura
dos fatos e da rotina, é garimpar na areia dos dias
a poesia intrínseca que habita todas as coisas...
Revelar a música que se oculta
na água, na pedra, no vento,
no vazio da esquina,
no parapeito da janela que,
morosamente, contempla o infinito...
O ofício do poeta traz
o antagonismo de quem
procura um mirante nas estrelas
mergulhando fundo em si mesmo...
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Canção do Puro Amor...
A donzela diz:
"O Amor é isto, que caído sobre ti
te fez de anônimo a amado e fundamental.
E te fez meu amado e portador
dos sentidos de ser, sorrir, e existir
que somem contigo quando não estás...
O Amor é isto que abriu na tua face
a beleza mais pura e comovente
que a criança em ti coloriu por noites
e noites de sonhos, e que ofertaste
ao mundo e ele não o reconheceu...
Mas eu, eu agora vejo o brilho
desacreditado que mora em ti,
e de ti mesmo olvidado quando
te digo que és belo meu amado,
e o menino intimidado me sorri
do fundo do tempo mais puro
que jaz em ti... O Amor é isso,
a cor mais bonita que não consigo
te mostrar... A melodia mais fina
que não posso te fazer escutar...
E o verso mais lindo que não consigo
a ti declamar. Então, o contraditório
do Amor é o de lançar-nos tão
intensamente ao outro e nos deixar
ainda mais trancafiados em si..."
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Sobre a Luz
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