quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Affair Improvável?
Ah, se Batman e o Coringa parassem
pra conversar!
Muita coisa teriam o que dizer
sobre suas loucuras,
sobre suas máscaras,
seus sonhos!
Um querendo salvar,
o outro destruir...
Que são na verdade as duas faces
de uma mesma presunção!
Um clama por justiça,
o outro crê no caos.
Um aplaca sua dor com a vingança
o outro com o mal...
Os dois descobririam num bar
que não são assim, afinal,
tão desiguais!
Talvez até descobrissem que
são almas gêmeas e, quem sabe,
combinassem um segundo encontro,
talvez um jantar!... Sabe-se lá?...
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
A Verdade Sobre os Mitos
Escrevo, e minhas palavras têm compartimentos secretos
(que são esses que ficam entre parênteses) que dizem
coisas sub-ditas em súbitas reflexões, em emoções
que se atrasam e insuflam-me fantasias! Conversam
com meus versos certas criaturas que ora me apavoram,
e vez por outra me fascinam em um tenebroso idílio!
Agora mesmo tenho de ir, Quíron vai lá em casa
(o pobrezinho)! Desde o dia em que fizeram
o pobre crer que era um mito, só conversa em meus
versos comigo. Falamos do alívio de suas feridas
depois que transferiu-se para o sidéreo, e do perfume
dos versos de outros poetas que sobem ao espaço...
Ah ele gosta disso, e ouve também as preces de cura que
fazem enternecer seu coração mítico. Conversamos sobre
o nascimento das estrelas e da lástima do egoísmo, que tanto
ontem quanto agora ainda faz suas vítimas! Dançamos no fogo,
e bebemos o sumo das palavras, cantamos ao som de todas
as liturgias, e acordamos entrelaçados em uma lira mágica!
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Espelhos
É estranho como no espelho se buscam sempre as coisas erradas,
uma ruga furtiva, um brilho que se foi, uma juventude sempre fugaz.
Assim como os enganos da maquiagem, os ensaios de olhar,
nunca verdadeiros, eternamente encenados... Devia-se buscar
nos espelhos a claridade dos lagos, a tranquilidade dos olhos,
e as luzes que nele se refletem antes de saltar para o invisível!
Num espelho moram as salas que nunca entramos (embora sejam
dentro de nossas casas). Lá moram nossos mortos queridos, as
memórias com seus fantasmas, os poemas inacabados que gemem
sonhando com o ponto final! Dentro do espelho jazem as almas
aprisionadas das bruxas medievais (e também das atuais) que
apontam para os mundos imensos e imaginais dos poetas e místicos!
domingo, 17 de novembro de 2013
Aquário
O céu era azul como
vidraças translúcidas,
onde o próprio infinito
contemplava a vida
humana no aquário
alquímico do tempo,
e o fumo dos sonhos
ascendendo aos céus,
e a angústia das almas
vazias enterrando-se
vagarosamente no chão...
O mesmo chão
donde brotavam
acácias em flores douradas,
que compunham esses versos
que lhe pendiam dos galhos,
versos de ouro
que se esparramavam
dentro das minhas palavras...
No Tempo da Inocência
Eu desenhava delicadezas com as palavras
dando asas ao sonho, ao corpo e mesmo
às coisas inertes e pesadas, pois que aprendi
que a poesia é a alquimia da alma para extrair
a beleza e com ela inundar os olhos, preencher
de ternura os ouvidos, e cobrir os gestos da
mais doce delicadeza... Naquele tempo eu cria
que o Amor estava oculto no âmago mais profundo
das coisas e que a poesia era capaz de fazê-lo
saltar intensa e livremente pra dentro vida!
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Canção da Tempestade
I
A poesia da tempestade está
em combinar luz e sombra,
fogo e água, e o silêncio com
o canto das águas que vertem
das profundezas do céu!
Descanso aos acordes
da ventania, a sinfonia
atormentada de um violino
afinado com o indizível
e o transcendental!...
II
Os pássaros bem que anunciaram,
pois que viram no céu a correria
das nuvens e disseram em seus
cânticos que ela vinha! Porém,
somente os poetas e os místicos
puderam ouvir os passos enormes
da tempestade, quando esta deitou
seus escuros lençois cinzas, e fez
tremer o céu da costa oriental!
III
As águas desceram com pressa
de suas embarcações-nuvens!
Correram buliçosas por sobre
as calçadas, brincaram de
transpor o meio fio das ruas,
como os grandes rios do norte
fazem com as suas margens...
As minúsculas gotículas
encontraram-se com outras
há muito perdidas nessas idas
e vindas dos ciclos das águas.
Simularam grandezas, brincaram
nas alamedas e depois umas
subiram de volta aos céus,
enquanto outras foram dormir,
serenamente, no fundo da terra!!!
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Turíbulo
Circunferências de prata
de onde desprendiam-se
volutas odoríferas que
curvavam-se até derramar
a sua poesia pelo chão,
mas que logo eram erguidas
à etéreas e místicas alturas
ao som das rezas, e pela
comoção de preces que
procuravam ter com Deus
uma íntima comunicação...
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Templo
O silêncio exalava um frescor
úmido que vertia das paredes
e nossos passos o cortavam
com a precisão de uma faca...
O brilho de velas e incensos
eram palavras não verbais
sussurradas através
de rostos solenes,
que aspiravam as
alturas perenes
dos sonhos e da alma...
Para muito além
da nave e da abóboda central!
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
A Grande Fuga
Notícia do poema (Real infelizmente): Uma cena inusitada assustou os moradores e comerciantes da área urbana de Cachoeiro do Itapemirim na manhã desta quarta-feira (30/10/2013). Um boi estava solto, circulando pela cidade e avançando nas pessoas que passavam. O Corpo de Bombeiros do município tentou fazer a captura do animal, mas não conseguiu. O boi acabou sendo morto pela polícia!
o que fazer da sua liberdade...
Estavam todos lá, os cidadãos,
os desocupados e os bombeiros
e os soldados da brigada militar...
Pra fazer o quê?...
Arremetia chifres
como quem dizia:
"Me deixem em paz!
"Me deixem em paz!
Saiam daqui!"
Confuso, assustado,
Confuso, assustado,
o boi foi pra todo lado!
Tentaram encurralá-lo,
enlaçá-lo, que nada!
enlaçá-lo, que nada!
No susto e na ânsia
de liberdade ele
era mais vivo
era mais vivo
e mais rápido!
Nem viram esse medo e esse susto
no fundo do olho preto e doce,
nem viram a agonia de quem
não sabia o que fazer com tanto espaço!
Um dos soldados
Nem viram esse medo e esse susto
no fundo do olho preto e doce,
nem viram a agonia de quem
não sabia o que fazer com tanto espaço!
Um dos soldados
deu cinco tiros
pelo bem comum,
pelo bem comum,
e o boi morreu
como a maioria de nós vive,
sem entender bem os motivos,
sem nem compreender
como a maioria de nós vive,
sem entender bem os motivos,
sem nem compreender
o que era exatamente
aquilo o que ele
recém descobrira
recém descobrira
(a liberdade)!
Só caiu exangue.
Só caiu exangue.
Mais uma vítima
inocente do bem comum.
inocente do bem comum.
Que nunca foi considerada,
compreendida, acolhida...
Ele que tivera uma
vida mais pura
que toda a nossa
humanidade e um dia
decidiu sair e ver o mundo
que não teve, como sempre,
nenhuma piedade!
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