segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Delírio Noturno Sobre os Sonhos



Pelas altas muralhas do silêncio
pirilampos enamorados das estrelas
flertavam com as sendas do infinito

Enquanto nos bailes da minha poesia,
pelos salões imensos da madrugada,
minha imaginação rodava e rodava...

O poeta é bem mais do que a palavra,
é também o guardião dos sonhos,
que preenchem a alma e criam o futuro!

Os sonhos não pagam dívidas, porém
criam soluções! Não reparam cismas
mas desenham outras realidades

Unem povos, expressam talentos,
revigoram sentimentos, e os sonhos
mortos matam a vida também!

Sonhar o sonho, decantá-lo, voar
com ele e mergulhar nele até os confins,
eis a nossa mais nobre e severa missão!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Canção da Chuva



Que a chuva viesse delicada, espantando o calor,
embalando o sono umedecido dos pássaros,
limpado as folhas e o pensamento...
Que a chuva viesse como uma cúmplice do silêncio
e uma carruagem da noite!

Que sobre nossos sonhos modernos aspergisse
gotículas de romance, e de canções longínquas,
sobre o racionalismo das mentes.
Que trouxesse a malemolência mansa do sono
para a dureza febril dos corpos ardentes

Que umedecesse as orações e dançasse 
no mesmo vento que faz dançar a chama das velas do ritual,
que purificasse as preces antes delas seguirem às alturas
e que um pouco antes do fim, lavasse a memória e enterrasse
dissabores e dores bem fundo, dentro do chão! 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Jornada



O tempo é um trem,
e cada fase da vida
um vagão!
Cada encontro 
um passageiro,
cada desencontro
a parada numa estação.

As paisagens
são  cenários
onde ensaiamos 
nossos êxtases,
ou calvários,
ao longo de toda
a viagem!

Mas o danado mesmo
é se desvendar o segredo
de onde estamos indo!

Como se já não bastasse 
o enigma de onde viemos...

Que se junta ao desafio
de achar um próprio sentido
para percorrer o caminho!

A Rua Encantada



Gentilmente as mãos da brisa ajeitavam os ninhos dos pássaros enquanto a noite acendia luzes na terra e no céu Cheia de ternura a rua flertava com o infinito na curva das esquinas, e os poetas sonolentos, viravam astronautas do tempo... Assim versos lindos vertiam do negror dos becos, pingavam da luz das estrelas e do clarão da lua, dançando na rua, e floresciam poemas no papel!

*Foto: Bairro Farroupilha, Porto Alegre.

Os Dois Irmãos



À Kátia Pires

Nasceram juntos, gêmeos, mas coloridos. 
Um negro, outro dourado. Quatrocentas 
gramas cada, o pretinho e o dourado!

Miavam sem parar à sua mãe postiça,
já que a legítima morrera numa ONG
assistida por humanos e sua caridade
(que deu-lhes até uma mãe postiça)...

Um dia o pretinho murchou, não comeu,
miava fraquinho... Enquanto o dourado
corria saltitando vida. Nem notara que
a luz do irmão se apagara!

Correria ao veterinário, medicamentos
de hora em hora. Até que melhorou 
um pouco. Voltou a correr, brincou
com o mano, e então de novo murchou

Foi para um canto, não comia. Apreensão!
O dourado bem que o buscava, mas nada!
Foi então que a mãe postiça reparou, que a
melhora foi o esforço para uma despedida!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Andanças



Nos trilhos os pergaminhos riscados do tempo,
no vento as notas do silêncio...
A manhã clara desfraldada
pela poesia, 
a poeira branca sobre
os ombros da mobília...
Tudo vago e longínquo!

As rotas foram todas perdidas,
é preciso inventar novos caminhos,
abrir trilhas no vazio,
na saudade e no pensamento, 
enveredar por florestas perdidas!

Os mundos aéreos do sentimento
sustentam os palácios dos nossos sonhos,
e o peso dos nossos abraços, 
que nada mais são
do que cruzes que se encontram
pra compartilhar
o suplício de suas cargas!


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sobre Certas Janelas...


Há janelas que não descortinam paisagens
com verdes pastagens, ou prédios curiosos
de curvas amplas ou restritas... Há janelas
que flertam com o infinto, que miram saudades
antigas. Esquinas que só existem bem longe
no passado! Calçadas ingênuas onde os
passantes acarinhavam nossas cabeças,
trocavam sorrisos e faziam nos sentirmos 
seguros e amados nos confins do mundo, 
onde achávamos que era a nossa casa!

Há janelas onde as ruas são outras ruas,
com sons de lembranças das feiras esquecidas,
do afiador de facas apitando bem longe. E da
ronda noturna do velho do saco que levava as 
criancinhas mal criadas lá pra bem longe...
Pobre velho do saco! Coisas bem piores
nos levam pra bem longe e nós só o 
temíamos porque ainda ignorávamos isso... 

Essas janelas onde mães esperavam os filhos 
vindos da escola, e onde os irmãos contavam 
histórias sobre o formato das nuvens são
ambíguas! Ora mágicas, ora mal assombradas!
Elas são portais do passado, como nos filmes
antigos de ficção científica, só que sem os
mocinhos e os bandidos. Só um bando de 
meninos e meninas poemando seus vestígios...

Vigílias

As portas abertas estão sempre à espera de algo... Deixo minha porta da cozinha sempre aberta à luz do dia, ao vento furtivo, à visita d...