quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Canção do Ermo
Outra vez vou seguir as estrelas e
me lançar no vazio da noite erma,
nos sonhos das eras, no passado
ancestral onde a floresta e o fogo
e o vento falavam com os homens.
Vou buscar a guiança dos pássaros
para a trilha dos gnomos. Outra vez
quero ouvir os segredos da mãe árvore
e suas histórias de quando o tempo,
como nós, era ainda uma criança...
Quero deixar a lembrança de que
a espada separou-nos das coisas
que eram vivas e de quando dançávamos
nos ciclos da estação e da lua, e nada
mais se queria do tempo e da vida!
Vem comigo, a minha sina tem sido
buscar os abismos onde nunca se foi,
tenho saltando de todos eles sozinho
e agora contigo a minha sina triste
pode florir na flor rubra do nosso amor...
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Vaga Presença
A luz chegou
rasgando os serões
da madrugada
E as nuvens pareciam
barcas roxas
saindo devagar...
As montanhas, outra
vez, foram ficando nuas
sem vergonha
E o sol, outra vez,
secou os reposteiros
da insônia
Esse mundo de
encontros e luzes
É tão vago, difuso
e diverso de mim
Qualquer sopro
do eterno aqui
tem o peso do fim
Todos pensam que
têm, que são...
(todos pensam
eu não!...)
Minha cabeça
nas nuvens distantes...
Barcas roxas
que migraram
pra bem longe!
Chuva de Agosto
Cavalos de fogo vão troteando
nas nuvens escuras, em trovoada
e a canção muitas vezes entoada
vai então, verso por verso despencando
Gota à gota em meio à chuvarada
a música das águas soletrando
segredos àqueles que estão sonhando
coisas da vida pela madrugada...
Nós, para quem sonhar, viver e compor
não é mais hobby, vício ou mesmo uma dor
mas um movimento involuntário
Nós que cruzamos feito corsários
mares escusos e solitários
em busca da vida, do sonho e do Amor...
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Quem Matou a Poesia?
Ora, quem matou a poesia?...
Pense bem, quem foi que colocou
nela palavrões em nome da expressão?
Tirou sua música, estrutura e simetria?
Quem foi que pisou em sua beleza
no afã de protestos e em meio às crises,
e que, em nome dos direitos humanos,
roubou-lhe o direito à imaginação
e ao baile de simbologia da alma,
pelo concretismo poético? Quem foi?
Fomos nós que matamos a poesia!
Como a mãe mata o filho que gerou
e o amante que asfixia sem perdão
aquele ser que um dia ele tanto amou.
Não concordas?... Então me diz onde estão
os grandes poetas da atualidade? Quem são?
Vivemos num deserto sem grandes vozes
porque qualquer político e ou empresário
virou imortal, e os poetas de verdade morrem
com cadernos e cadernos de versos inéditos
com músicas que não conheceremos, jamais!
Somos todos, de algum modo, os amantes-
vampiros da poesia que nós amamos, e tanto
que a sugamos até dos ossos o tutano
com medo de parecermos piegas medievais!...
Interjeição
Ali observando o mundo
o pássaro imóvel
parou meu olhar
A tarde curvada pela luz,
as flores debruçadas
no chão liso.
O pássaro imóvel olhava
como que se estivesse
sonâmbulo
O olho preto perguntava:
onde vai dar isso tudo
meu Deus?
A tarde, a luz, as flores
o chão, meu coração...
Ninguém respondeu!
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Gatos
Os gatos que se esgueiram pelas ruas
são os entes distantes do mistério,
como as estrelas, ou Stonehenge e suas
rotas invisíveis no sidéreo...
Roçam com languidez as peles nuas,
desdenham-nas depois por puro tédio
sem explicação (além da travessura!),
eles logo após postam-se sérios.
Gemem às estrelas, e os seus gemidos
são a súplica de deuses esquecidos
num passado que não volta, nunca mais!
Beleza curvilínea, e sem rivais,
os gatos são os vestígios ancestrais
de um entre os enigmas não resolvidos.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Monotonia
A chuva falava com o telhado
coisas sobre a dança e a poesia,
coisas sobre o céu e sobre a ventania,
coisas que o tempo deve ter contado...
A fala mansa do ar na ventania
inundou de aromas o meu sábado,
e a leitura do velho Jorge Amado
perdeu suas cores, e a alegria.
Quero saber mais das coisas distantes,
das terras em que o sonho passeia
sobre os voos que a alma anseia
Para além da rua e dos seus passantes,
na vaga semelhança dos semblantes.
Eu quero o que faz pulsar as veias!...
sábado, 10 de agosto de 2013
Soneto da Outra Vida
Inerte coração de pedra que é meu
vivo no abismo escuro dos meus dias
abrindo os véus de minha poesia
em busca de um coração que já viveu
Mares dos meus versos (negros como breu)
revoltos por sonhos e nostalgia,
sacudidos por minhas ventanias,
onde está o que eu fui?... E agora o que sou eu?...
Buscas infindas, por noites e dias
memórias de encontros e partidas
em busca de mim mesmo e minha vida
Uma outra vida há muito esquecida
onde eu era só aquilo o que eu sentia
livre de dores e de despedidas...
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Segredo
Meu segredo
queima
feito fogo,
avança
nos sonhos
nos abraços
guia
meus passos
me amarra
me mata
me afasta
do mundo
dos outros
de mim...
Abandono
Dormem meus
versos,
dorme o lápis
o sonho
o passado
tudo dorme.
Que conforto!
O descanso
longínquo
do
abandono!...
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
As Águas da Deusa
À Laura Larangeira
As águas da Deusa percorrem rios
profundos, mágicos e interiores
de memórias, e de dissabores
de inundações e de muitos estios.
Aqueles que a olham de olhos vazios,
porque desconhecem de seus horrores
ou de suas belezas ou sabores,
só verão o raso, o pouco, inerte e frio.
Por que essas águas são para os revoltos
os sonhadores, místicos, e os poucos
que seguiram o caminho interior.
Onde sonhar e viver mesmo o amor
é estar na trilha de não se ser senhor,
é seguir com os poetas, e os loucos!...
Fado
Jaz um pobre soneto inacabado
que dorme tristemente rabiscado.
Quarteto de rima precisa e lisa
onde um amor passado se agoniza
Por coisas que se deixaram na brisa
dos dias aos olhos, e à pesquisa,
da curiosidade vã de um letrado,
ou ao sonho de um poeta apaixonado.
Jaz ali o pobre soneto inacabado...
Mas e se ele for só uma quadra apenas
sem ter nada mais a ser alcançado?
E se seu sentido já foi esgotado
pelo afã de coisas vãs e pequenas?...
Mesmo assim, este fim é um triste fado!...
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Insólito Peregrino
Estou cantando sonhos
de ontem, de sempre
de ninguém!
Estou cantando cantigas
e histórias antigas
por que não vens...
À margem de sonhos
em mares profundos,
num céu de olhos escuros,
estou cantando a ninguém
pelo alto e nas profundezas
nas torrentes que arrastam
as almas aos confins do além...
Por estes abismos de sonho,
imaginação, verdade e fantasia
eu me lanço... Só porque não vens!...
Marés
Estou perdido,
entre os sonhos e os sonhadores
entre as barcas e os navegadores
Ondulo nos beirais,
me inflo com as paixões,
e mínguo com a lua.
Me enlaço nos abraços,
me engasgo, surto, sonho,
e de novo recomeço.
Fim e começo, fim e começo,
quilômetros de versos...
Até quando meu Deus?...
Ecos Antigos...
À Cintia Margarete C. Canes
A casa dormia.
Na sala coberta com um véu de prata
um rangido se ouvia com as vozes do passado:
"Vem maninho!... Vem pra casa!"
Gritava minha mãe da porta
de uma outra casa, que para sempre
será também a minha casa...
Jovem, muito jovem ela se foi.
Quando partiu tinha trinta e dois,
e se (quando) um dia nos encontrarmos
eu serei o mais velho de nós dois...
Ah, sei lá... Acho que já vou dormir!
Essas enchentes da saudade
sempre me afogam na madrugada!...
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Sobre a Luz
O Sol é a luz que dentro da consciência espera o despertar do eu mais profundo, que alheio a tudo que disseram vem ao mundo, pleno ver...
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Há um quê de vazio vivo na noite e as pessoas se dividem entre fugir ou entregar-se a ele! Há um caminho oculto que quase ninguém vê, e ...