quinta-feira, 31 de outubro de 2013
As Duas Flores
Haviam duas flores em frente
uma à outra... O vento vez por
outra forçava um abraço súbito,
uma chegada seguida de breve
despedida!
Se amavam assim, secretamente,
passavam juntas por suas agonias...
Uns se comoviam ao olharem,
outros passavam por cima...
Sacudindo-nas de susto!
De vez em quando um poeta,
como eu, escrevia alguma coisa
sobre amores impossíveis, ou
distantes, embora para as flores
estivesse tudo bem...
Até que um dia foi achada uma
das flores arrancada e a outra
solitária parecia girar ao redor
buscando em agonia a sua
companheira
Até hoje nunca se soube, quem
era o macho, quem era a fêmea!
Sabe-se só que se amaram e que
como todo mundo uma se foi
sem levar a sua parceira!
Hoje uma das flores olha para
outras flores que nascem por
toda a parte, mas sabe que no
vão à sua frente nunca haverá
outra senão sua companheira!
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
A Ordem Oculta
No alto das árvores o vento
cantava sua lira,
enquanto as raízes dançavam
no fundo da terra!
E na dança incógnita da vida
suspiravam os pássaros, e ouvia-se
atrás do seu canto eles
clamando: Amor! Amor!
Deslizavam as nuvens em seu
etéreo passeio, sorrindo
pra nós!... Rindo de nós!...
E quem (Meu Deus!) há de saber?
Enquanto aqui embaixo
uns se encontravam, outros
se perdiam... E o poeta que
via a tudo, não sabia o seu lugar!...
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Mau Humor (ou Cansei de ser Bonzinho!)
O sol resmungão
foi chegando
dando um chute
na madrugada,
parecia dizer:
"Xô sai daqui!
Vai pra lá
noite estrelada!"
E as sombras ficaram
com tanto medo
que deram um pulo
que assustou os passarinhos
que fugiram em revoada!
Ah, a luz, o clarão
dourado do dia!
Suave, pleno, perene...
Queria que o sol
tivesse uma cabeça...
Assim dava um tiro
na cara dele!...
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
O Jardim Secreto
Esculpindo-se toda em ternuras
a luz desceu rasgando a vidraça
para queimar o silêncio que se
espalhava em véus pela mobília;
da velha madeira emanavam-se
os rangidos de vozes do passado.
De longe mães que chamaram,
avós que ninaram em doces cantigas
e debaixo do salgueiro, o fantasma
de alguma infância perdida
brinca de esconder com o vento
que nunca ouve os chamados do tempo...
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
O Sagrado
As nuvens abriram-se permitindo que uma nesga de sol
caísse como naqueles grandes filmes épicos
sobre os milagres bíblicos
e, lá embaixo,
ela incidiu sobre um menino
que lambia os dedos melados de algodão doce...
É, poucas coisas nesse mundo são
mais sagradas que a inocência!
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Poeminha da Noite Alta
No meu quarto uma mariposa
veio rondar meu poema,
minúscula andarilha da noite
que vasculha as frestas iluminadas da rua...
Quanta honra concedes
ao meus versos, mas tomara
que não aches a fresta silábica
que conduz aos porões eternos da minha alma
Canção à Beira Mar
Na praia o mar construía
oratórios de espuma onde
o vento vinha orar...
E uma procissão de pássaros
à tarde conduzia uma ruidosa
liturgia à beira mar...
A luz vazava pela espuma
das horas e a noite mansa
acendia lanternas no céu!
E as lanternas estelares
conduziam as barcas do
sonho até à casa de Deus...
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Seara do Sonho
é sempre outro, é sempre
vário! Com altas torres de
sonho e areias movediças
onde todo engodo afunda
como num nascedouro
ao contrário!
E bem perto há uma praia
e, ao pé da montanha, há
um paredão de pinheiros
que, solenemente postados,
um paredão de pinheiros
que, solenemente postados,
à noite cantam num
magnífico coro vegetal,
junto do marulho das
ondas que uivam à nudez
da lua quando ela deixa
cair seus véus de neblina,
cor de prata e de cristal...
cor de prata e de cristal...
Ando pelas areias pintadas
de azul pálido cantando
coisas variadas de sonho
e de nostalgia pelos salões
imensos da madrugada,
farejando o perfume do
dia como quem busca sua paz,
seus sonhos e o seu lugar!...
Mas onde anda meu sonho,
minha paz e o meu lugar?
"Jaz longe daqui" diz o vento,
"Numa sepultura de nácar,
dentro de uma ostra azul,
numa embarcação há muito
naufragada, dentro das
profundezas do mar!..."
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Insônia
Castelos de Insônia
sombreavam a orla
da minha noite
à frente de um mar de silêncios
Onde meu sono
não anoitecia
nem amanhecia...
Longe, na pátria
dos desejos,
sereias faziam juras,
lançavam-me encantamentos...
Mas meu coração
não cedia!
Passei a noite
de olhar a noite
enquanto lá,
no mirante das estrelas
O tempo desfraldava -
lentamente -
um outro dia...
(Inspirado no arcano XVIII, A Lua)
Publicado no meu livro: "Tarot para
a Autotransformação e a Cura"
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Sobre Curadores
Curadores vão além dos medicamentos,
prescrições e tratamentos, diagnósticos
curativos e internações...
Curadores são também os que rezam,
benzem, energizam com as mãos, com
as preces, as pedras, as flores, as ervas,
com os cânticos, e os apelos do coração
Ou são simplesmente os que acarinham
a dor, abraçam num momento de tristeza
ou ligam só pra perguntar "Como está?"
"Você comeu?"
Curadores são preciosos neste mundo
sem sonhos e pobre de fé e confiança,
mas em que transborda cinismo, medo,
e sobra desconfiança
E nesse mar de ânsias vãs e paixões
consumistas (e trajetórias sem sentido),
os curadores são os anjos esquecidos
que a urgência dos tempos resgatou!
sábado, 5 de outubro de 2013
Intenção
Eu quero aquela nuvem
aquela, bem alta
que é seguida
por um comboio
de estrelas
E quero a dança
da noite
com seus véus
de neblina
E a carícia
dos dedos da brisa
para que trancem
tramas de amor
no meu poema...
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Sobre Vampiros e Lobisomens...
Ah, a velha sina nas glebas do mal...
De um lado uma brutal sede assassina
por sangue... E noutro a maldição canina
dos que se perderam para o animal...
Vampiros e lobisomens são, afinal,
parceiros desta mesma triste sina,
desta maldição de carnificina
sem amor, e tendo o tempo por rival!...
Também em cada homem jaz a fera,
que à sombra dos sonhos, esta quimera,
bebe nosso sangue, uiva nossas paixões!
Anseia a juventude pelas eras,
e o vômito da ira que vocifera
na floresta lodosa das solidões...
Atlantis
densidade
de neblina
Luminosidade
de opala
Cercada
por torres
de nácar
de alturas
abismais
Cingida por
bosques de
sargaços
de dimensões
colossais
A cidade
submarina
estendia-se
nas profundezas
marinhas
com abóbodas
brilhantes
em forma
de caracol
E eu a via nítida
mais e mais
a medida
que afundava
no sonho
afogado
das águas
noturnas
Levado na vaga
vazia do sono,
nos meandros
do sonho de
reentrâncias
perdidas...
Por entre
correntezas
e marés
aquelas águas não
baixaram jamais!
Hoje sou
parte aquosa
daquilo tudo
Anêmonas multicor
são meus versos agora!
E eu mesmo sou
meio homem/coral
sonho/mistério
estátua de sal
das profundezas
do mar!...
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Sobre a Luz
O Sol é a luz que dentro da consciência espera o despertar do eu mais profundo, que alheio a tudo que disseram vem ao mundo, pleno ver...
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