terça-feira, 30 de agosto de 2016
A Árvore da Paz...
Minha infância dorme à sombra
de uma imensa árvore de copa ampla
que enchia de flores amarelas na primavera,
e pingava sementes dentro de vagens
que pareciam gotas despencando dos galhos,
mas desciam girando feito helicópteros
que eu, minha irmã e vizinhos, brincávamos
numa disputa pra ver quem conseguia apará-los
sem deixar cair no chão... O Vencedor colhia as sementes,
brincava com elas, e depois as devolvia ao chão...
Assim éramos todos, sem saber,
disseminadores do gigante
que nos acolhia em seus galhos,
e nos dava assento em suas raízes enormes...
Sucumbiu ao progresso; um terreno enorme e vazio
atraía a cobiça dos edifícios e de seus construtores.
O gigante calado nos viu comprar sua briga, defender sua vida,
abraçar seu tronco em protesto... Mas vieram os homens da lei,
que nunca estiveram ao lado da beleza e da harmonia,
e cortaram em pedaços o gigante... Dias antes,
numa ventania, ele fez gemer alto suas folhas
e seu tronco, sabia que ia morrer!
Mas gritar a quem? Implorar por quem?
Às crianças que corriam à sua volta?
Aos velhos que sentavam à sua sombra?
Nem tinha flores nesse dia... Só tristeza!
Mas não importa! Ainda em algum lugar em mim
ele viceja com sua copa verdejante,
com suas flores amarelas e seus helicópteros de alegria,
que trazem na barriga as sementes do descanso
que hoje vai longe, naqueles dias sem pressa,
naquele tempo em que o tempo
parecia nos conduzir à eternidade de dias iguais
em leveza, prazer e sonhos bons...
Descobri mais tarde que o gigante se chamava guapuruvu...
Que significa "madeira podre" em guarani... Mas tomei a decisão
de que significa para mim, e para sempre, "madeira da paz",
onde estou deitado à sombra de suas flores até hoje,
escrevendo versos que abrem asas ao infinito...
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