Meu olhar bebe tua salina beatitude azul brilhante
onde os pássaros avançam para um beijo matinal.
Tu cujo corpo gigantesco de água viva,
presente e invisível simultaneamente,
ondula a orla da praia e para o qual as anêmonas embevecidas
fazem sua dança, e os corais pintam
de arco-íris o fundo do mar...
Em teu corpo divino e oceânico
de sonho e monstruosidade,
de esperança e terror, deslizam os pescadores
desde o início dos tempos e tu os alimenta
com cardumes de teu sangue
e os pune terrivelmente com teus tremores,
maremotos e ventos,
pois esse é o preço dos teus favores.
Tu que engoliste os tesouros coloniais
temperados com o sangue dos filhos puros das Américas,
e se por um lado fizeste justiça,
por outro te divertiu o naufrágio do sonho humano
de conquista, poder e grandeza
e as carcaças dos navios naufragados são
os resíduos sórdidos do teu humor.
Tu que deste à Terra os filhos da terra
como uma benção e uma maldição,
esses que agora olham para ti com o semblante
perdido, rememorando o que a sua lógica
convenientemente chamou de mitos,
mas que são os teus vestígios, inimagináveis,
para quem te vê disfarçando tua grandeza
num véu de espuma branca à beira mar...