quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tarot



Fui seduzido por tua dança de vida e de morte,
por tuas imagens misteriosas e assombrosamente familiares,
com Loucos e Torres Fulminadas, Sumo Sacerdotes,
Carruagens e Sacerdotisas encantadas!

Por teus gládios e copas, bastões e pentagramas
e por teu turbilhão figurativo que cria um espelho claro,
um portal com setenta e oito chaves
no qual a vida se revela, abrindo suas pétalas,
suas pernas e mostrando sem pudor
os seus meandros, sempre de modo inesperado!

Fui seduzido por tuas imagens, mitos e analogias
nas criações infinitas às quais empresta tuas imagens sagradas...

Vi minha visão ampliar-se
e minha percepção tornar-se precisa,
profunda e clara como a incisão de uma faca...
E hoje então eu vejo por trás das máscaras,
e isto não tornou-me cínico
mas sim incrivelmente atento
à beleza estonteante da dança dos ciclos

De morte e renascimento,
de encontros e despedidas
à qual estamos todos submetidos...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Outono... Inverno



A terra descansa da lida
das flores e dos frutos.
O sol mais cedo morre nas
entranhas do chão

e o vento suspira cada vez
mais longamente...
No canto dos pássaros
que é quase um choro...
Nas lágrimas amarelecidas
das folhas de outono...

Dorme a paisagem numa
estação de silêncios
onde o passo se apressa
com o frio da noite
enquanto descem, discretos
os toldos dos restaurantes,
e até os grilos se encolhem de frio...

"É tão triste!" dizem alguns.
"É tão escuro!" dizem outros...
"É tão bom!" digo eu.

As dobras do tempo vão se chegando
e as portas da luz se fecham
nessa estação!
Os que olham pra fora
veem a dor que já estava lá!
Enquanto os que olham pra dentro
reencontram a luz!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Elegia Canina


in memoriam à uma cocker spaniel inesquecível!...


No dia 4 de junho de 2009
morreu uma encarnação da ternura
que atendia pelo nome de Julie,
vivia sobre quatro patas,
olhava com irremediável doçura
e nunca, nunca mesmo,
mostrou desafeto por quem quer que fosse!


Recebia a todos com gravetos de flores
latinhas de suco e até
com seu bem mais precioso:
Uma boneca de pano
com cabelos vermelhos
que oferecia à altura da mão
dos visitantes até que a pegassem.


Sobre aqueles que temia,
ou muito estranhava, apenas olhava
e sobriamente oferecia a pata direita
como quem formalmente repetisse
um cumprimento social de
"Bom dia", sem baixar, nem diminuir
a candura daquele olhar!



















Sempre esteve ao lado dos seus
em crises, doenças ou acessos de choro,
ali ficando até a melhora, e então dormia
como quem tivesse cumprido uma missão.
Não era meu animal de estimação
mas de uma tia, já falecida, que a tinha
como sua maior amiga e melhor companhia.


Ela morreu de modo indigno
- sacrificada - porque a humanidade se
incomoda quando seus bichinhos
adoecem e já não podem ser atração
na ponta de uma coleira.
Não me despedi, e confesso que na correria
que eu mesmo criei, a esqueci.


Com um tanto de remorso, saudade e culpa
escrevi o que já havia reconhecido:
Que toda a bondade que se sonha e idealiza
na humanidade ela já tinha.
Enquanto nós com nossos livros
tratados, religiões e sonhos
andamos apenas procurando ser...


Sem tratados ou religiões,
filosofias ou opiniões,
ela me ensinou a ser cordial
com os estranhos e mesmo
na desconfiança, a ser gentil.
Me ensinou a ser fiel sem cobrar um preço
e mesmo que sem dizer nada
passar a certeza de que se está ali!


Escrevi esse poema para que mais
pessoas saibam que ela esteve aqui
e para que se lembrem
de que tudo o que ela foi
é possível a nós, embora mais difícil,
pois carecemos de pureza,
já que a inteligência também
criou a ambição e a concorrência!


Por isso e pelo carinho,
pela recepção calorosa,
pelo toco de cauda abanando
depois de um longo dia de esforço,
pela boneca de pano entregue na mão,
pelo amor e a confiança
e pelo toque amoroso do olhar...


MUITO OBRIGADO POR TUDO JULIE!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Salvaçâo
















Chegaste como
a brisa numa
tarde de calor


Resgatando a mim
de minhas profundezas
oceânicas


Eu, sobrevivente
de todos os meus
naufrágios


Pedra de lembranças
em profundezas
esquecida


Eu que nem mais
reconhecia
minha face


Eu, criatura
recriada pelo
teu amor...


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sonoridade




















A chuva caiu com seus versos
por sobre os telhados,
gotejou nos canteiros

Escorreu por entre as canaletas 
dos meus dedos até
o açude do poema no papel.

Eu colhi sua música,
capturei o seu cheiro
e estendi em palavras
sua sonora clareza...

Mas ela esvaiu-se
por entre as valas do silêncio
e da indiferença, de um mundo
que ficou cego para a beleza...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Voo




















Na casa de minha avó
a sala
dentro da sala
a mesa
sobre a mesa
o livro
e dentro do livro o poema...


Sonetos de Quintana,
uma pátria de sonhos
infâncias e lembranças
pra onde meu coração voou
para nunca mais voltar...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Inconsciência















Dorme a tua casta
de estrela,
eu sigo minha sina
de pária.


Durmo ao relento
de mim mesmo
tendo só por
testemunha
a palavra.


Dorme a tua casta
de estrela...
E a humanidde dorme 
sobre ela mesma!

Um Lar

  Onde quer que se viva será sempre uma casa, mas um lar de verdade só existe onde moram nossos sonhos, e moram nossas memórias, e florescem...